
O consumo mundial de vinho caiu para o nível mais baixo dos últimos 63 anos, em 2024, totalizando 214,2 milhões de hectolitros, de acordo com os dados da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV).
Esta quebra de 3,3% face a 2023 resulta de uma combinação de fatores, como o aumento dos preços, a redução da produção, o incremento dos custos de vinificação e a inflação generalizada.
De acordo com a OIV, os consumidores estão hoje a pagar cerca de 30% mais pelo vinho do que há apenas alguns anos, num cenário descrito como uma verdadeira “tempestade perfeita”.
Tendência de queda prolongada
O declínio acentuado de 2024 segue uma tendência negativa que se verifica desde 2018, impulsionada principalmente pela diminuição do consumo na China. Além dos fatores económicos e geopolíticos, a OIV sublinha que as mudanças nos estilos de vida e nas preferências dos consumidores estão a ter um impacto estrutural no mercado global de vinho.
A União Europeia, que representa 48% das vendas globais de vinho, registou uma diminuição do consumo de 2,8%, para 103,6 milhões de hectolitros. Destaque para França, maior consumidor da União Europeia, com 23 milhões de hectolitros, mas a registar uma quebra de 3,6%; para a Itália, com uma ligeira subida de 0,1% para 22,3 milhões de hectolitros; para a Alemanha, com uma queda de 3%, totalizando 17,8 milhões de hectolitros; para Espanha, com um crescimento de 1,2%, atingindo 9,9 milhões de hectolitros; e para Portugal, com um aumento de 0,5%, para 5,6 milhões de hectolitros.
No continente americano, a quebra foi ainda mais significativa, com a Argentina a apresentar o consumo mais baixo desde 1942 e uma descida de 1,2% para 7,7 milhões de hectolitros, e os Estados Unidos, o maior mercado mundial de vinho, a sofrerem uma queda acentuada de 5,8%, para 33,3 milhões de hectolitros.
Na Ásia, a situação foi ainda mais dramática: na China, o consumo caiu 19,3%, fixando-se nos 5,5 milhões de hectolitros.
Produção mundial também atinge mínimos históricos
A queda na procura foi acompanhada por uma redução da produção mundial de vinho, que desceu 4,8% em 2024, para 225,8 milhões de hectolitros, o valor mais baixo dos últimos 60 anos.
As condições climáticas extremas, desde chuvas excessivas a secas severas, penalizaram fortemente as colheitas, especialmente na Europa, que enfrentou a pior vindima do século XXI.
Itália liderou termos de produção, com 44,1 milhões de hectolitros (+15%). Seguiu-se a França, que com 36,1 milhões de hectolitros (-23,5%) apresentou o volume mais baixo desde 1957. Nota ainda para a Espanha, com 31 milhões de hectolitros (+9,3%), e para os Estados Unidos, com 21,1 milhões de hectolitros (+17,2%).
No hemisfério sul, registou-se a menor colheita em duas décadas. Na Argentina, a produção subiu 23,3% para 10,9 milhões de hectolitros, mas ainda abaixo da média dos últimos cinco anos. Já o Chile registou uma queda de 15,6%, para 9,3 milhões de hectolitros
Exportações: volumes estáveis, preços elevados
Apesar da pressão sobre a produção, o volume global de exportações manteve-se estável em 99,8 milhões de hectolitros, mas o valor das exportações desceu ligeiramente (0,3%), para 36 mil milhões de euros.
O preço médio de exportação atingiu 3,60 euros por litro, cerca de 30% acima dos níveis pré-pandemia, impulsionado pela inflação e pela oferta limitada.
O diretor geral da OIV, John Barker, salienta que, embora o sector enfrente desafios como as alterações climáticas, mudanças no perfil dos consumidores e instabilidade geopolítica, estes fatores também representam oportunidades para construir um futuro mais sustentável e centrado no consumidor.